#2 [ o som da liberdade ]


Tenho os olhos pesados, sinto que me vou apagando aos poucos, a luz forte vai ficando mais fraca e quase que se desvanece... Todas as mágoas foram afogadas no meio das lágrimas perdidas, toda a dor desapareceu, perdendo-se no meio desse oceano profundo e magoado de sentimentos fortes e perturbadores... Todo o amor, toda a alegria, toda a doçura e toda a simpatia, evaporaram junto das paredes deste meu frio e insensivel quarto branco, onde a luz do sol é proibida e apenas se ouve o som aterrorizante das máquinas. Finalmente fecho os olhos, cansada de lutar por algo que nunca vou ter. um pequeno sorriso, demasiado fraco por sinal, solitário e triste, tenta escapar por entre os meus lábios, naquele quarto fechado. quarto esse, onde o ar escasseia e me custa a respirar, sem a ajuda destes aparelhos que a mim se encontram ligados. no momento em que volto a abrir os olhos, oiço o doce som da liberdade. revejo-me num campo de papoilas ardentes e belas margaridas, cheio de ar puro e respirável, aí respiro pelo meu próprio nariz... estava a sonhar acordada... subitamente algo me acorda desse sonho bom e me traz de volta à dura realidade. sinto-me leve como uma pena a pairar no ar, cheia de vida, até me aperceber que quando o terceiro som soa-se eu partiria como tantos outros na mesma situaçao que eu, para sempre. E assim foi, ao terceiro apito, fechei os olhos. Eternamente.